Hipertensão cresce em crianças

Doença crônica de alta prevalência no Brasil e no mundo, a hipertensão arterial é um dos grandes desafios da saúde pública. Uma verdadeira epidemia. Apenas no País, a estimativa é que mais de 35 milhões de adultos tenham a doença, que se não tratada de forma adequada pode resultar em graves problemas como infarto, acidente vascular cerebral (SCV) e insuficiência renal.
Longe de ser um problema apenas dos mais velhos, a enfermidade também tem ficado frequente nas crianças. Hoje nos meninos e meninas brasileiros há uma prevalência superior a 5% da doença. Durante esta semana, a enfermidade ganha ainda mais destaque já que na sexta-feira (26) é o Dia Nacional de Prevenção e Combate a Hipertensão. O diagnostico precoce é regra de ouro para qualquer idade.
O coordenador da unidade de Nefrologia Pediátrica do Imip, José Pacheco, comentou que mudanças no padrão de comportamento e de alimentação têm impactado na pressão arterial de crianças para a ocorrência da hipertensão primária. Entre os principais vilões estão a inatividade física e o consumo precoce de alimentos industrializados, que são riquíssimos em sal.
“A introdução precoce, antes do 2º ano de vida, de alimentos ricos em açúcar e sal, fazem com que as crianças abandonem as frutas, verduras e legumes, porque passam a não ter ‘gosto’ mais para elas. A papilas da língua, o paladar, se estabelecem por volta dos 2 anos de idade, então se antes desse período você começa a introduzir alimentos ricos em açúcar e sal eles vão abandonar a papinha de fruta e de legumes, gerando uma mudança do padrão alimentar e aumento da obesidade já na infância. Obesas elas também aumentam em 30 vezes a probabilidade de ter elevação da pressão”, explicou.
José Pacheco destaca a aferição da pressão na criança tem critérios diferentes da do adulto. Nos mais velhos o parâmetro é o 140 por 90, mas nos pequenos o cálculo leva em consideração a altura, sexo e peso. E nas crianças a hipertensão é ainda mais silenciosa. “É discreta e, inicialmente, não produz sintoma nenhum. Se o pediatra não aferir a pressão arterial na rotina do exame físico não vai dar o diagnostico precoce”, disse. De acordo com ele, o estabelecido pela Sociedade Americana de Pediatria é que os bebês saudáveis precisam ter a pressão aferida anualmente a partir do 3º ano de vida. Mas os bebês abaixo de três anos com fatores de risco como baixo peso ao nascer, prematuridade, internamento em UTI, distúrbio pulmonar e uso prolongador de respirador necessitam de aferição rotineira.
Outro fator de alerta desde a infância é a hereditariedade. Indivíduos com pais ou avós com histórico de hipertensão devem redobrar os cuidados em qualquer época da vida. O coordenador de Clínica Médica do Hospital Miguel Arraes, Fábio Queiroga, comentou ainda que a doença tem uma ocorrência maior também na população negra, herança da própria etnia. “O negro tem mais hipertensão e tem mais hipertensão de difícil controle. Acaba mais resistente para o tratamento”, comentou. De forma geral, indivíduos adultos completamente saudáveis devem aferir a pressão ao menos uma vez ao ano. Aqueles já hipertensos devem ampliar essa frequência, além de seguir as orientações médicas para controlar a enfermidade.
Sobre a popularidade dos tensiômetros eletrônicos que se tornaram popular em muitas casas, o médico esclarece que o equipamento é útil, mas é preciso certa cautela. “Esses tensiômetros são interessantes para você ter um parâmetro. A maioria deles tem um poder de medição que não é tão certo. Mas ajuda ter o aparelho em casa, anotar e quando for ao médico informar como essa curva de pressão se comportou. Contudo, o aparelho de casa deve ser algo para se tomar uma decisão, como decisão medicamentosa, por exemplo”.

VIGITEL
O último levantamento de Vigilância de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), realizado pelo Ministério da Saúde em 2018, e que leva em conta as capitais brasileiras, aponta que a frequência de adultos que referiram diagnóstico médico de hipertensão foi de 16,1% (em Palmas) a 30,7% (no Rio de Janeiro). Nesta escala, o Recife teve percentual foi 26,3%. Chama atenção, no entanto que a cidade pernambucana ficou na segunda posição quando se observa pacientes do sexo feminino. Entre mulheres, as maiores frequências foram observadas no Rio de Janeiro (34,7%), Recife (30,0%) e Salvador (28,7%).
Fonte: Folhape